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Desenhos

A Linha e seus Nós:
Desafios nas Fronteiras Epistemológicas

Katianne de Sousa Almeida

O desenho foi uma das linguagens utilizadas nas atividades da disciplina "Antropologia da percepção: fluxos, subjetividades e grafias" oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Goiás (PPGAS/UFG) ministrada pelo professor Dr. Luis Felipe Kojima Hirano, em 2021. As ilustrações, juntamente com a poesia, compuseram uma grande teia epistemológica que tinha como proposta o desafio dos velhos hábitos mentais de construção argumentativa dentro da produção acadêmica antropológica. Instigada pelas abordagens pós-coloniais, coloco em questão as estratégias que evidenciam as possibilidades, os imprevistos, assim como os riscos da experimentação na Antropologia. A partir de exercícios que incorporam percepções, movimentos, corporalidades e grafias, conduzo um diálogo quanto à polissemia das linguagens, suas autoridades e interdependências.

Renascimento e Continuidade:
Goyazes, Guayazes, Goyaz

José Alecrim

Feche seus olhos e construa os rostos dos Parentes atacados em séculos de Brasil. Com seus olhos fechados escute as vozes, pense nos nomes ausentes, imagine as histórias que foram interrompidas, pense nos saberes que não foram entregues para outras gerações e as famílias que não foram continuadas, assim como para os indígenas Goyazes no encontro com os Bandeirantes. Uma vida tirada é um livro que se fecha!

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Provocado pela observação diária enquanto indígena residente do centro de Goiânia e a leitura do texto “OS ÍNDIOS “GOYÁ”, Os Fantasmas e Nós” do autor Antón Corbacho Quintela, além da ausência de documentos e imagens sobre os indígenas Goyaz em função do apagamento histórico, apresento “Renascimento e Continuidade” - obra produzida a lápis por meio do desenho de observação e finalizada através da pintura digital. Nesta obra o monumento dedicado ao Bandeirante e o símbolo heróico dedicado a sua imagem é ressignificado. A força de resistência é a mulher indígena Goyaz, e a continuidade se dá através da vida, na beleza de uma criança, onde as armas são substituídas por uma cena afetuosa de amor.

Vento

José Alecrim

Esta obra, produzida em Nanquim é inspirada na leitura do texto  “OS ÍNDIOS “GOYÁ”, Os Fantasmas e Nós” do autor Antón Corbacho Quintela, na investigação sobre o topônimo Goiás e as origens deste, e também no livro "A terra dos mil povos: história indígena brasileira contada por um índio" do autor Kaká Werá Jecupé, em específico no exercício de visualização do passado na origem dos povos Indígenas brasileiros em sua diversidade.

 

Esta percepção em desenho é uma reflexão sobre os povos indígenas dizimados pela violência, como os Goyá, aos quais não podemos visitar sua imagem, na tentativa de imaginar um possível rosto. A obra "Vento" inspira-se na teoria do Cuiabano Joaquim Francisco de Mattos, apresentada por QUINTELA (2006), que os Indígenas Goyá seriam na verdade do povo Kayapó, nomeados erradamente por Bartolomeu Bueno da Silva (Filho). Tal confusão teria suas origens nos Bandeirantes Paulistas, que acreditavam na existência de um grupo tupi de nome “Guayana” na região mineira do Rio Grande. Na teoria de Mattos os Indígenas Goyá podem de fato ter existido mas teriam quase desaparecido com as doenças trazidas pelos brancos no século XVI, e sua localização seria em Campinas-SP, desta forma a lenda mitificada no imaginário goiano do “Anhanguera” aprisionando as águas teria acontecido na fronteira entre Minas Gerais e São Paulo e não as margens do Rio Vermelho na cidade de Goiás.

 

A cadeia de acontecimentos que dá nome ao Estado pode não ter acontecido, ou tenha sido bem diferente de como foi e ainda é contada. Esta obra em desenho traz em sua essência uma reflexão sobre a ausência do espaço de fala ao Índigena, e do apagamento histórico de sua identidade. Sem a presença deste povo e de sua própria voz, talvez nunca saibamos quem realmente foram.

 

A obra “Vento” foi escolhida pela mesa de júri do 23º FICA como troféu do prêmio especial “Ailton Krenak: Filmes para adiar o fim do mundo'', lançado durante o FICA 2022. A peça foi entregue ao líder indígena, escritor e ambientalista, Ailton Krenak, que, durante o cerimonial, conferiu o prêmio ao 1º vencedor, o antropólogo documentarista Vincent Carelli pelo conjunto de sua obra. A cerimônia ocorreu no dia 04 de junho, dentro do prédio histórico Cine Teatro São Joaquim, local considerado como primeiro teatro do Centro-Oeste inaugurado em 1857  na Cidade de Goiás.

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